A gafe da NSR - Porsche 908/3

 Culminou com a chegada do segundo Set dos Porsche 908/3 por parte do fabricante NSR, a representação destes modelos participantes na edição de 1970 na prova Targa Flório.

 Ao mesmo nível dos anteriormente editados, acaba por ficar assim completa a histórica equipa dos quatro naipes, com a chegada das "Copas" no modelo branco e das "Espadas" no azul.

O primeiro Set era composto pelos modelos com os números 12 e 40 e agora foi a vez da chegada do 20 e do 36.

 E fecha assim a NSR este feito da Porsche em que em ano de estreia do modelo, consegue através do Porsche número 40 a vitória nessa icónica prova.

Mas afinal, onde está a gafe?

 Temos então referenciados cada um dos Sets como "SET09 1/2" e "SET09 2/2". Até aqui tudo muito bem, porque será o primeiro conjunto de dois modelos da referência 09 e o segundo conjunto igualmente de dois modelos e da mesma referência, 09. Mas quando a restante referência nos indica "Porsche 908/3 - Targa Flório 1970 - #12 - #40" associado a ambas as referências, é que a porca torce o rabo. Isto porque afinal estamos a dizer que em ambas as caixas temos modelos com os mesmos números. Na verdade os números 12 e 40 fazem parte do primeiro Set e no segundo deveriam constar os números 20 e 36. De facto, um lapso inusual e que não deveria ter acontecido, sobretudo em edições tão limitadas, no caso a apenas 449 exemplares.

NSR, mais atenção aos pormenores...

NSR - Quanto vale o Porsche 908?

O Porsche 908, especialmente na sua versão /3, acompanha o meu imaginário desde a altura em que mo foi dado a conhecer através das revistas da especialidade, dado na verdade nunca ter tido o privilégio de o ter conhecido ao vivo e a côres. De linhas absolutamente sóbrias mas aerodinamicamente eficazes quanto baste, aliado a uma eficiência dinâmica que dependia também de um reduzido peso do seu conjunto, proporcionar-lhe-ía de imediato uma estreia vitoriosa, para além de um palmarés notável com vitórias sobretudo em palcos que exigiam modelos dominadores de terrenos sinuosos.

Empolgou-me a sua chegada através das criações Fly ao mundo dos slot car, mas deles podia-se apenas tirar partido em competições, quando se lhes permitia a participação usufruindo do íman de que se faziam equipar de série.
O seu reaparecimento apoiado noutros princípios através do fabricante NSR, potenciou estas mesmas linhas no capítulo da competição. E é com base neste encantador novo elemento, que tentaremos hoje explorar as suas potencialidades e tentar perceber até onde o poderemos catapultar na luta contra os rivais existentes na actualidade.

A primeira tarefa recai no seu aligeiramento, dado os valôres determinados na sua versão de série, se encontrarem distantes dos verificados no Mc'Laren M8D e Matra-Simca ambos da Slot.It ou do Lola T70 Spyder da Thunder Slot, todos eles rivais directos nas competições de Sport Protótipos Clássicos.

 Sirvo-me especialmente do Mc'Laren e Matra como ponto de partida para  o seu desenvolvimento, dado encontrarem-se no top das melhores máquinas destas competições, a par do Lola da Thunder Slot, mas que infelizmente não entrará neste teste.

 A versão original deste 908/3, com os seus 64,5gr, encontra-se aquém do registo do Mc'Laren já devidamente trabalhado para a competição. Portanto, a primeira tarefa e tal como foi acima escrito, recairá no seu aligeiramento, que recai sobre escolha de novas jantes e eixos, podendo-se também ganhar algumas migalhas no pinhão e cremalheira, dado não haver neste sentido, permissão por parte dos regulamentos para que se trabalhe ao nível de quaisquer outros elementos ou órgãos.

 No caso do Matra, embora o mesmo se encontre devidamente preparado, poderemos acrescentar que o pêso aqui registado poderá ser melhorado, dado ter-se mantido o conjunto das jantes originais do modelo, meramente por questões estéticas. Mas a adopção de outros elementos ao nível das suas rodas, pô-lo-íam muito próximo dos valôres determinados no Mc'Laren.

 O original conjunto rodas/eixo posteriores marcam na balança o valôr de 7,2 gr, mas com a adopção de jantes de magnésio de origem Slot.It e um eixo ôco da mesma origem, conseguimos retirar 2,4 gr, o que para além do real ganho de peso, proporcionará uma maior eficiência à aceleração e travagem por se tratar do eixo motriz.

 No conjunto frontal, a troca por jantes de menor diâmetro e de plástico de origem Scaleauto, proporcionou-nos um ganho de 1,4 gr e no final, este Porsche acabaria por fixar o valôr na balança de 60.9 gr, um ganho sobre o seu pêso original de 3,6gr. Não parece muito, mas temos de nos lembrar que a montagem de suspensões na qual se recorre a parafusos mais compridos e da inclusão das próprias molas, acabam por contribuir para a sua penalização, mas com a certeza do benefício de um aumento de performance em pista. Mas o actual registo, pô-lo-á no bom caminho encontrando-se já bastante próximo dos valôres dos seus  rivais.

 Devo referir que a concepção deste modelos se encontra tão simplificada quanto a do modelo real, o que acaba por não nos causar qualquer tipo de constrangimento na hora de sua preparação, incluindo a facilidade do acerto das rodas traseiras, que na maioria dos casos se vê complicada e a merecer alguns cuidados por baterem no interior das carroçarias.

 E chegou então a hora de nos encaminhar-mos para a pista, para o primeiro teste de avaliação das potencialidades de um modelo que desconhecemos em absoluto. Refiro que há falta de um Lola T70 Spyder devidamente preparado, serão o Mc'Laren e Matra a fazer tempos que servirão de termo de comparação.

 

 Ao fim do primeiro turno com o Mc'Laren, modelo com que iniciei os testes numa pista em que tanto esta como os pneus mereceram constante limpeza, ficava o registo de 12,15s. Passava-se a vez ao Matra, ficando a nova estrela para o fim.

 Padecendo igualmente de limpeza ao nível de pista e pneus, o Matra acabaria no entanto por conseguir baixar o crono, igualmente com um turno completo de pilotagem.
Chegava então a vez de estudar as primeiras reacções deste Porsche branquinho e tirar as primeiras ilações acerca das suas potencialidades, frente a rivais de respeito.

 E no seu primeiro turno em pista, ficavam uma série de certezas, constactadas por um registo que ficava muito aquém do dos seus rivais. 13,20s, deixavam-no a 1,16s do melhor tempo conseguido, o que constitui uma verdadeira eternidade.
Mas as primeiras impressões ditam que se trata de um modelo com um comportamento à entrada das curvas verdadeiramente notável, mas cuja traseira não acompanha. Falta aqui saber, se neste particular não termos também de atribuir algumas culpas ao estado da pista de origem Ninco que necessitava de um melhor estado de limpeza. A relação era também verdadeiramente inapropriada, com verdadeiro défice de velocidade, quando comparado com os dois modelos anteriormente experimentados.
Insisti na sua manutenção em pista recorrendo apenas a sucessivas limpezas de pneus, tendo assistido paulatinamente a uma melhoria dos seus registos. Impressiona sobretudo durante a primeira e segunda voltas após a limpeza dos pneus, pois acaba por ficar completamente agarrado à pista, mas perdendo depois e rápidamente a sua eficiência na tracção. Mas este comportamento levou-me a pensar o que não será este 908 em pistas de origem Carrera, quando calçado com pneus de excelente qualidade.

 Até que acabaria mesmo por bater o melhor dos cronos e pela primeira vez abaixo do segundo 12, chegando mesmo a impressionar quando o número do cronómetro se fixou nos 11,67s. Parecia um registo estrondosamente positivo, muito embora se continuasse a fazer notar a falta de velocidade.
Estava então na hora de retomar os dois modelos da Slot.It, pois muito se deveria valêr ao estado de limpeza a que a pista se ía devotando naturalmente, com a insistência de passagens do 908. Mas era necessário perceber agora com mais exactidão em que valôres fixariam o cronómetro, tanto o Mc'Laren como o Matra.

 E postos em pista, rápidamente se esclarecia que haveria que trabalhar muito no 908, já que ambas as criações da Slot.It arrebatariam aquele que parecia ter sido um belo registo.
Era então hora de rumar às boxes para trabalhar ao nível da sua relação pinhão/cremalheira.
Depois de experimentadas várias alternativas e soluções, a relação final da última experiência cifrar-se-ía numa cremalheira de origem NSR de 32 dentes, ao invés da original de 31 dentes e um pinhão Sloting Plus de aperto, de 13 dentes, por substituição do original de 11 dentes.

 Levado para a pista, 0,07s pior do que o melhor registo fixado e que acabaria por pertencer ao Matra, parece demonstrar que afinal teremos mesmo Porsche 908 para as grandes guerras de clássicos. Contudo, não sei se por ter sido retirado o motor do seu berço original, ou se por outra qualquer razão, este passou a ter estranhas vibrações na hora da aceleração à saída das curvas. Algo que remeto agora para os pequenos acertos no sentido de apurar ao máximo uma máquina que parece ter nascido para enriquecer as grande batalhas.

Não esquecer que no topo desta pirâmide, parece encontrar-se ainda o fantástico Lola T70 da Thunder Slot. Mãos-à-obra....

O que poderá vir a valer o novo 908/3 da NSR?

Os novos produtos são sempre objecto de curiosidade e acabamos por servir-nos dos bons exemplos como termo comparativo.
No capítulo dos Spor Protótipos Clássicos, que é onde se insere a mais recente novidade da NSR, temos assistido à presença de belos produtos no mercado, sendo a Thunder Slot a última representante nestas apostas, mas demonstrando ao mesmo tempo ter-se encontrado no imediato no melhor caminho, sobretudo com o seu Lola T70 Spyder.
Mas abordemos esta matéria, partindo de algumas prévias considerações.

Foi a partir das iniciativas da Slot.It que esta categoria surgiu e se tem desenvolvido, onde podemos usufruir de modelos como o Ferrari 312 PB, Alfa Romeo 33, Ford GT40, Chaparral 2E, Mc'Laren M8D e Matra 670B e se têm mostrado como fortes protagonistas pelos campeonatos que se vão desenrolando por diversos clubes. Mais tarde surgiria também uma forte aposta por parte da NSR nesta categoria, através da edição do Ford GT40 MK IV, Ford GT40, Porsche 917, Ford P68 3L, com os quais se começaram a repartir os bons desempenhos.

Mas se no meu entender vejo o Mac'Laren M8D como o melhor de todos os modelos até agora reproduzidos pela Slot.It, a realidade diz-me que nalguns clubes, tanto este como o Chaparral se encontram excluídos. Em abono da verdade, não se tratam de modelos Sport Protótipos, mas sim de modelos Can-Am, razão essa que os leva à exclusão nalguns regulamentos.

Pelo mesmo princípio, haveriam nesse caso de se encontrar permitidos apenas por parte da Thunder Slot, os Lola T70 MK III, já que a versão Spyder era também um militante desse mesmo campeonato norte-americano, o que o levaria então e logicamente, à exclusão. E pela mesma razão ainda, ficaria também retido nas estantes mesmo antes da sua edição, o novo Mc'Laren M6A deste mesmo fabricante, que estará para chegar dentro em breve. No caso, outro puro modelo Can-Am.

Pessoalmente, vejo com mais agrado a inclusão da totalidade deste tipo de modelos, pois valorizo a diversidade e no fundo, acabam todos por ser autênticos Sport Protótipos.

Expostas que foram as questões que considerei adequadas, abordemos então este novo 908/3 numa tentativa de perceber se haverão nele, argumentos capazes de o fazer imiscuir-se na cabeça das corridas, na hora de lutar pela vitória.

Modelo compacto e desprovido de apêndices sobretudo à retaguarda e dotado de uma traseira quase inexistente, parece à partida bafejado por alguma mais valia proporcionada por si só, pela extrema simplicidade da sua carroçaria.

O passo seguinte, leva-me à passagem daqueles modelos que considero mais prometedores, até à balança. Mas na primeira fase, estes são aproveitados absolutamente de série, tal como se encontram nas suas originais embalagens.

 Recordo aqui que o Lola T70 Spyder da Thunder Slot, é o único que de série se encontra desprovido de íman, muito embora o seu berço lhe permita a respectiva montagem. Por isso, os 59,6 gr deste modelo contra os 60,0 gr do Mc'Laren da Slot.It, não representarão a mesma diferença, assim que retiremos esse apêndice do modelo Slot.It.

 Mas espanta o elevado peso do recém chegado, já que os seus 66,7 gr contra por exemplo os 60 certos do Mc'Laren, representam um diferencial significativo, sobretudo quando constactamos que o interior e simulação do motor neste Porsche assenta sobretudo em material ultra-leva, uma simulação de motor à retaguarda extremamente simplificada e ausência de acessórios, como faróis por exemplo. Parte do problema encontrar-se-à certamente na adopção de jantes de alumínio e de aperto à frente, comparativamente com as plásticas e de pressão por parte da Slot.It.

Mas esta guerra é claramente ganha por Mc'Laren da Slot.It e Lola T70 Spyder da Thunder Slot.
Mas será que depois de preparados, as diferenças se manterão?
Aqui neste teste haverá um défice comparativo, já que não dispondo de nenhum Lola preparado, direi apenas que mesmo sem essa confirmação, trata-se de um extraordinário modelo de competição, assim esteja preparado como deve ser, mas também aqui fica uma chamada de atenção, pela dificuldade que este denota relativamente ao eixo traseiro, já que o local das rodas se mostra demasiado exíguo, obrigando a um bom trabalho nessa área, com escolha de pneus acertada e jantes devidamente adequados.

 Na preparação do Matra e Mc'Laren, recorreu-se ao uso de eixos ôcos no eixo de tracção, mas no Mc'Laren optou-se pela utilização de jantes metálicas de pequeno diâmetro à frente, pela sua tendência em levantar nas acelerações. Ainda assim, 0,9 gr foi o que se ganhou no Mc'Laren, contra os 1,8 gr do conseguido ganhar no Matra., o que quer dizer que o modelo Can-Am consegue ainda assim mostrar-se mais leve, 2,4  gr. após a totalidade dos trabalhos de refinamento.
 O trabalho efectuado no Porsche 908/3 não passou por tanto. A totalidade das jantes originais foi mantida, retirou-se o íman e foram montadas suspensões, tal como nos restantes modelos. À frente recebeu pneus de baixo perfil da NSR e também outro tipo de pneus igualmente de origem NSR no eixo traseiro. Foram também utilizados parafusos allen para fazer subir o eixo da frente, de forma a que os pneus não toquem ou toquem o menos possível na pista. E no final, o ganho acabaria por ser de 2,5 gr sobre a versão base.

 Para que se perceba a diferença da troca de pneus.

Passa para já por ser um modelo em evolução, pronto para umas primeiras voltas de análise acerca das suas atitudes em pista, ficando para mais tarde um combate mais sério, contra aqueles que já deram provas.
Mas haverá outros pontos em análise e que passaremos a considerar.

 Tanto em relação ao Mc'Laren como em relação ao Matra, este 908 acaba por ser mais permissivo no que respeita à utilização de pneus. Percebe-se o quanto mais largos podem ser neste novo Porsche, sem ser penalizado por atritos desaconselhados tanto no chassis como na carroçaria. Este é para já um dos aspectos positivos a seu favôr.
Mas esta poderá ser uma falsa questão, dado a maioria dos regulamentos optar pela utilização de pneus com referência fixa, que podem normalmente passar pelos Spirit/Scaleauto ou F22 da Slot.It. Tratando-se de pneus mais estreitos, a possível vantagem que poderia ser retirada com a utilização de pneus mais largos, acaba por se perder.

 Quanto às larguras máximas conseguidas, Mc'Laren e Matra, equivalem-se. Já no Porsche, a largura conseguida é superior. Portanto, se não se tira partido duma possível largura de pneus, pode conseguir-se um ganho de estabilidade pela maior largura no seu eixo traseiro.

 Quanto à distância eixo traseiro/patilhão, é clara a vantagem conseguida pelo Matra, Em relação aos outros dois, a equivalência é real, apesar do Mc'Laren poder tirar partido de um patilhão cuja lâmina se mostra bem mais comprida, mas com essa vantagem a acontecer para a retaguarda.

No que respeita às alturas das carroçarias, o novo Porsche perde para ambos, parecendo ser o Mc'Laren a poder tirar maior vantagem desse argumento, por apresentar um centro de carroçaria dificilmente batido por qualquer outro modelo. O Porsche poderá vir a tirar partido da ausência de massa para lá do eixo posterior, contrariamente aos seus rivais que contam com ailerons recuados e subidos e guarda-lamas prolongados para a traseira, no caso do Matra.
Estamos então no ponto de partida para as primeiras conclusões dinâmicas, podendo depois atacar uma preparação mais refinada com a experimentação de suspensões de variada dureza, o recurso a jantes e eixos mais leves, etc. etc. etc.

 Na balança, jantes traseiras originais e jantes de magnésio ambas equipadas com o mesmo pneu e teremos aqui um ganho de 0,3 gr por roda. À frente, com recurso a jantes de plástico e de pressão, equipadas com capas mais finas, o ganho será consideravelmente maior. Eixos ôcos contribuirão também para uns respeitáveis gr's a menos e tudo somado, parece-me que estes modelos acabarão por ficar significativamente aproximados.

Falta agora saber se em termos dinâmicos este novo Porsche surpreende, ou se não conseguirá acompanhar a nova vaga das novas produções.
Um teste que ficará para mais tarde...