Mas não é essa a história que vos quero aqui trazer, mas sim a história da minha essência enquanto praticante e coleccionador de modelos de slot. E se o início do meu interesse aconteceu em Moçambique no ano de 1966 com a minha primeira pista trazida pelo Pai Natal, a verdade é que o despertar da serpente aconteceria no ano de 1971, ao tomar contacto com uma realidade competitiva bem mais séria do que aquela até ali vivida e repartida em guerras de sótãos. O atrevimento levara-me a confrontos com mais experientes praticantes, dotados de máquinas bem mais aptas e capazes de performances invejáveis. E assim tive os meus primeiros contactos com os modelos Cox, a coqueluche daquela década no que se referia à modalidade. E a paixão aconteceu. Rui Veranas era um desses assíduos corredores e que acabou por se tornar no meu ídolo, simplesmente pela belíssima máquina com que sempre se apresentava. Era um Cheetah da Cox. Inicialmente todo preto e mais tarde preto com a frente vermelha, com um fino friso branco a separar as duas cores. Era simplesmente, lindo.
Aquele modelo marcou-me eternamente. Não descansei até que um dia consegui adquirir um usado. Ao mesmo tempo adquiria ao mesmo proprietário um Cucaracha, um modelo inventado mas de fabrico igualmente Cox. Rápidamente percebi a vantagem de ter um cucaracha, pois tratava-se de um modelo mais desenvolvido em termos de equilíbrio, peso e dotado ainda duma motorização bastante superior. Passaria a ser o meu carro oficial para as competições, mas para brincar, não poderia faltar o meu idolatrado Cheetah.
Contudo uma revolução precipitou uma série de acontecimentos em cadeia e embora tivesse conseguido trazer os meus carrinhos de estimação, tanto uso havia de lhes dar a solo, que tudo acabaria por se ir desintegrando. E de tudo, muito pouco sobrou.
Em baixo é possível ver-se o Cheetah com o seu característico chassis em magnésio, bem como as suas jantes e o Cucaracha cujo chassis triangular em alumínio era ainda basculante, servindo-se dos apoios do eixo traseiro na carroçaria, para tal.
Mas estes que agora aqui vos mostro, não eram os meus.
O fabricante Cox é para mim um nome eterno neste mundo, como será hoje a Slot.It para as gerações de praticantes mais recentes. Durante longos anos andei numa quase desenfreada procura de um Cheetah daquele fabricante em condições razoáveis, nunca o tendo conseguido. Esta minha paixão acabaria por levar um grande amigo a desfazer-se destes dois exemplares da Cox para mos ofertar. Fiquei absolutamente atónito pela nobreza deste gesto, quando recepcionei pelas mãos de um amigo, esta inacreditável oferenda. Chorei, pois parecia-me pouco razoável da minha parte poder aceitar estas peças que tão bem sabia o quanto representam e representavam igualmente para ele. Conhecia estes modelos da época de Lourenço Marques, de quando bricava-mos juntos. Parecia que estava a viver um sonho. Depois de esclarecido, percebi que o único caminho era mesma aceitar. E aceitei e detenh-os agora, religiosamente guardados.
Da minha parte havia já conseguido mas sem que houvesse ainda Cheetah, a sua caixa original e respectivo folheto, bem como também a folha de decalques de que se fazia na época acompanhar. Hoje, sinto que o Cheetah do meu amigo, ficou pelo menos um pouco mais completo.
Do meu Cucaracha original nada sobrou, nem o motor que de tanto rodar, acabaria por romper o próprio colector. Do Cheetah, resta esta triste recordação. Sem saber sequer onde havia ido parar o chassis, aproveitei a minha época louca das transformações dos carrinhos, para também espatifar este sagrado modelo. Aqui mostro o meu Cheetah transformado inacabadamente, ao lado daquele que agora idolatro.
Mas à falta de Cheetah da Cox, as minhas belas recordações mantiveram-me numa eterna procura daquele que mais gostara. E não perdoei. Assim que a MRRC anunciou a sua reprodução, instalou-se em mim um pesado desassossego até que lá fui colmatando essa lacuna à medida que íam sendo editados, já que colecção de slot sem um Cheetah da Cox, não é colecção. Mas continuavam a não ser Cox, o que lá revertia a história à velha questão. A minha colecção, não era colecção sem um modelito da Cox sequer.
Mas no mínimo, já contemplava os tão belos Cheetah e a versão preta lá ía ocupando o espaço do verdadeiro, imitava na medida do possível, o velho Cox.
Em cima é possível ver-se que a versão preta é o único dos quatro editados, que tem quatro stop's e incorpora no habitáculo um pneu suplente. É também o único desprovido de retrovisores exteriores.
Já os modelos azul e amarelo têm um capôt-motor liso desde a abertura do respiro do motor, até ao limite frontal, sendo equipados com representação dos motores distintos entre eles.
Os modelos vermelho e o preto já contemplam aberturas nesse mesmo capôt e uma deriva vertical que no preto é da côr do carro e no vermelho, transparente. Também aqui a representação do motor se mostra distinta.
Mas na insistente e ambiciosa procura dos extraordinários Cheetah, assim que a Carrera os editou também, tornou-se irresistível a aquisição de pelo menos um modelo deste fabricante. Em baixo, a comparação do modelo Cox com aquele que por ventura será a melhor de todas as representações desta brutal criação do mundo automóvel.
Mas depois que chegou à minha colecção o original Cheetah da Cox, sinto que uma colecção recebeu agora com dignidade esse nome, "uma colecção".
A generosidade de um grande amigo, tapou uma brecha que levava longos anos. Afinal, um Cheetah era a essência e o culminar de um ajuntamento de carrinhos que quase não tinham sentido. Cox será talvez o nome da magia e um carro lindo e outro numa invulgar e estranha côr arroxeada, serão ouro sobre azul.
Mas agora, o meu lixinho que durante tantos anos se manteve como tal, não vai parar ao lixo não, vai religiosamente fazer companhia e parelha com o seu coleguinha de infância.
Mas esta história só tem dois protagonistas, um Cheetah e um grande homem que terei sempre como um grande amigo, muito obrigado GRANDE Tó.
Sem comentários:
Enviar um comentário