Apesar de se ter assistido à esperada consagração de Rui Mota, os momentos de intensidade extrema durante o decorrer das provas foi levado ao limite. Nunca em mais nenhuma anterior realização se haviam registado tão intensos momentos de luta, sem que qualquer dos intervenientes baixasse os braços na entrega da taça, proporcionando por isso uma tremenda incerteza quanto ao desfecho desta jornada pautada com momentos de autênticos cenários de aguerrida batalha.
Por todas estas considerações, merecem-me a totalidade dos pilotos que se fizeram presentes, um publico reconhecimento pela forma de entrega com que o fizeram. De espírito de luta irreverentemente elevado mas sempre presente o maior dos sentidos de desportivismo, o maior dos desempenhos e o maior espírito combativo, esta notável prova ficará com toda a certeza para os anais deste clube e de todos quantos tiveram a sorte e privilégio de a viver na primeira pessoa.
Algumas ausências de relevo poderão ser tidas como a parte negativa da jornada, pois temos a certeza que teriam contribuído mais ainda para o engrandecimento de verdadeiros momentos de luxo e que esperemos, venha a ser na mesma medida repetível e que podendo se continuado, ser mesmo apanágio até da grandeza da modalidade dentro das paredes deste já grandioso clube que começa a deixar marcas entre um considerável número de aficionados nacionais e até no seio dos nossos vizinhos de fronteira.
Referir que o aparente facilitismo no percurso de sucesso de Rui Mota que o levou a consagrar-se vencedor deste campeonato de abertura da época de 2019/2020, após ter conquistado quatro indiscutíveis vitórias em quatro provas pontuáveis, uma vez que a primeira que acabaria por resultar numa Super Pole havia sido ganha por Carlos Afonso, um dos pilotos mais ausentes, foi marcado por progressiva melhoria a que se viu obrigado por imposição das constantes evoluções dos seus mais directos adversários, que proa-a-prova lá iam prometendo nas entrelinhas, a desforra. Acabaria no entanto num pleno por parte deste piloto, mas muito por força de não se deixar intimidar, obrigando-se a uma situação de constante melhoria e evolução da sua máquina e apuro de nervos de aço.
E porque houve umvreduzido e anormal número de concorrentes viu-se a organização obrigada à fuga da habitual formula do decorrer da jornada, optando-se pela realização da mesma através de duas provas por substituição das habituais calhas virtuais. Viveram-se assim as emoções em duplicado, já que cada uma delas foi disputada com tremenda intensidade e em que pelos registos conseguidos em cada uma delas, se previa um desfecho absolutamente inesperado.
Na primeira manga saíam Ricardo Moura, António Lafuente, Fernando Coelho, André Ferreira e Miguel Guerreiro e Jorge Seia, ambos os pilotos a participaram com modelo idêntico, com Miguel Guerreiro a tirar partido da ausência de Filipe Vinagreiro e a aproveitar a oportunidade para participar com o seu Nissan e Jorge Seia a participar igualmente de Nissan, tirando neste caso partido da ausência do seu filho.
E começava de imediato uma incerteza levada até ao fecho da jornada. Se durante quase toda a primeira manga Fernando Coelho conseguia dominar os seus adversários, numa tremenda prova da sua eficácia enquanto piloto e preparador, mas que por força das circunstâncias acaba por ser sempre habitualmente vítima de acontecimentos alheios, Miguel Guerreiro e Ricardo Moura funcionavam quase que como uma sombra. Acabaria por ser Miguel Guerreiro a levar a melhor após tremenda pressão sobre Fernando Coelho, mas não podemos deixar de focar a participação de André Ferreira que soube bater-se com tremendo afinco. Também Jorge Seia mostrou atrevimento inesperado para um rookie e acabaria mesmo por bater António Lafuente, o que começa já a ser preocupante para este apaixonado veterano.
Mas perante o que se assistira nesta manga de abertura, ficava mais que claro que tinha acabado de ser assinada a declaração de guerra. Os ânimos estavam em polvorosa, assumidos pelos brutais andamentos que cada um dos pilotos tinha subscrito nos registos das suas calhas. Resultados de 21 e 22 voltas e tempos da ordem dos 10.5, 10.6 e 10.7, bem demonstram que os pilotos da segunda prova teriam que se cuidar sériamente. O ambiente começava quase a assumir contornos de verdadeira batalha campal.
Num ápice, Miguel Guerreiro desce para terceiro, enquanto o assalto à primeira posição era perpetrado por Fernando Coelho, um piloto ávido de mostrar o seu potencial e do que é verdadeiramente capaz. Mas Ricardo Moura era outro dos pilotos que não vergava e cerrando dentes, mantinha-se estoicamente intrometido entre ambos. Mas se no comando as coisas se mantinham em verdadeiro pé de guerra, mais para trás, Jorge Seia começava um atrevimento que todos surpreendia, continuando a impôr-se a António Lafuente e também agora a André Ferreira, já que as coisas a este piloto não lhe corriam de feição. Estava a ficar bonito...
Os brutais andamentos continuavam, mas a terceira manga nada trouxe de novo, fruto de um impressionante ritmo que se vivia dentro de pista e em que se ao menor dos deslizes corresponderia a morte do artista, por outro, os ataques impostos por António Lafuente a Jorge Seia, não o levavam além do mesmo número de voltas deste.
E não se podia mesmo pedir mais dos intervenientes nesta que começava já a ser uma épica batalha. Era agora Ricardo Moura que assumia as rédeas da contenda, levando Miguel Guerreiro atrás de si. Fernando Coelho cedia naturalmente, visto a passagem pela calha 8 ser sempre uma condicionante de andamentos, mas as suas ambições mantinham-se intactas. Jorge Seia é que não desarmava de modo nenhum e continuava a manter o seu domínio sobre os quinto e sexto lugares, mesmo tendo feita a sua manga na calha um, uma calha nada fácil para nenhum piloto.
Mas com nervos de aço, Miguel Guerreiro acaba por marcar em metros a diferença da sua vantagem sobre Ricardo Moura, este último, outro piloto que se encontrava também suficientemente motivado para não abrir mão de uma possível vitória à geral, muito embora tivesse acabado de saír da calha mais lenta de entre as oito que constituem este traçado permanente existente neste clube vimaranense. E é Jorge Seia quem também começa assumidamente a escrever uma nova página no seu diário, já que nos começa a convencer que acabar a prova na frente de António Lafuente e André Ferreira, parece vir a ser uma realidade.
Enquanto Isso, Fernando Coelho com menos uma volta que os dois primeiros, mantém bem abertas e fundamentadas as suas expectativas quanto a um possível desfecho glorioso.
Mas Miguel Guerreiro não se deixa surpreender e tirando partido da sua passagem pela calha 2, desfere um ataque no fio da navalha, registando o tempo de 10.40 e uma incrível média de 10.60, o que lhe permite agora sobre Ricardo Moura, uma vantagem de uma volta. Nada estando seguro, obrigaria no entanto a que adversários directos tivessem que assumir riscos sérios na tentativa de seguir no seu encalço. Pior terá ficado agora Fernando Coelho a perder algum do contacto que mantinha com os homens da frente. Mas melhor ficou Jorge Seia, quando viu a sua vantagem passar para uma diferença de três voltas sobre António Lafuente.
Mas Ricardo Moura não desiste e aproveitando a passagem de Miguel Guerreiro pela a calha 1, aproveita para anular a sua desvantagem e registando o tempo de 10.42 e uma média de 10.57, confirma que será mesmo necessário contar com ele para as contas finais. Fernando Coelho, ainda que com voltas rapidíssimas também, pauta a sua desvantagem por algumas sempre indesejadas saídas. E paulatinamente, Jorge Seia lá continua a sua árdua tarefa de cavar um fosso entre ele e o seu perseguidor directo, assistindo-se à impossível tarefa de recuperação de André Ferreira, apesar do empenho e bom andamento por si imposto.
E partindo para a última e decisiva calha, a Ricardo Moura só lhe restava desferir a estocada final, mas o forcing por si levado a cabo leva-o a erros que, apesar dos 10.35 por si estabelecidos, acaba com pior média do que Miguel Guerreiro e consequente perda de terreno, cifrando-se em menos uma volta no final da prova, a diferença entre eles. Mas é Jorge Seia que se vê agora apoquentado pelos ataques de António Lafuente e vê a distância entre ambos encurtada em duas voltas, mas qual piloto "maduro", consegue andamento de gestão capaz de lhe assegurar a posição à frente daquele. António Lafuente não estaria disposto a tolerar uma afronta vinda de um iniciado, mas foi tardia a sua reacção e o desafora acabaria mesmo por acontecer.
E estava então já decorrida meia prova, uma vez que partiam agora mais cinco pilotos, aqueles que teriam de lidar com os resultados já conseguidos e que diga-se de passagem, bem intimidatórios. Se as 175 voltas estabelecidas por Miguel Guerreiro nesta jornada ainda ficavam a uma volta do estabelecido na jornada anterior por Rui Mota e que constituíam também o recorde do campeonato, não quereria isso dizer que esta jornada não pudesse correr pior para qualquer um dos que se aprontavam para finalizar a jornada. E tanto mais importante era essa marca estabelecida por Miguel Guerreiro, que foi conseguida fruto de um andamento fabuloso, mas também porque em toda a prova, havia tido um único despiste. Portanto, o peso que cada um transportava aos ombros, era tremendo. E alinhavam então Rui Mota, Marco Silva, que contava finalmente com o seu Nissan revisto, José Pedro Vieira, Frasco Leite e Filipe Carreiro, também este piloto a participar com um Nissan por troca com o seu habitual Sauber.
Mas foi de faca nos dentes que partiram estes guerreiros e Rui Mota não querendo deixar os seus créditos por mãos alheias, assumia de imediato o comando das operações, ao conseguir um novo recorde na calha um, ao conseguir umas impressionantes vinte e três voltas. De facto, parecia não haver o mínimo de facilitismo, já que também José Pedro Vieira e Marco Silva conseguiam o mesmo registo de voltas. Verdadeiramente impressionante o que se acabava de assistir, deixando Miguel Guerreiro na tabela combinada, o vencedor da primeira manga, na quarta posição. E o mínimo de voltas conseguido seriam as vinte e duas, ficando Frasco Leite na quinta posição geral e Filipe Carreiro não ía além do sétimo posto, atrás de Ricardo Moura. Assistia-se sem dúvida alguma e em directo, a uma das mais notáveis provas deste clube.
Na segunda calha, Rui Mota mantinha o incrível registo das vinte e três voltas, número de voltas igualmente estabelecido por Frasco Leite, o que o levaria a assumir imediatamente o segundo lugar da geral, relegando José Pedro Vieira para terceiro. Estes endiabrados três pilotos pareciam estar a querer pulverizar recordes absolutos, já que aos incríveis tempos registados, somavam ainda ausência de saídas. Mas também José Pedro Vieira se mantinha de pedra e cal na luta, conseguindo igual número de voltas de Frasco Leite. E era ainda preciso contar com as prestações de Marco Silva, que conseguia também ele apesar de já a duas voltas do comandante absoluto, manter-se à frente do melhor dos da primeira manga. Verdadeiramente notável é o que se pode dizer da prova que decorria e a que se assistia neste fabuloso espaço oferecido por este clube para a prática da modalidade. Já Filipe Carreiro que registava menos uma volta do que Marco Silva, era verdadeiramente empurrado para a sétima posição, o que bem demonstra a impressionante diferença que representava uma volta. Daí se podia aferir o verdadeiro equilíbrio a que se assistia entre a quase totalidade dos participantes desta jornada e o verdadeiro equilíbrio entre os participantes da primeira prova e desta segunda que se encontrava a decorrer e o verdadeiro significado que representava a diferença de uma volta.
Os 10.21 segundos registados como melhor volta absoluta e a a brutal média de 10.41 segundos estabelecidos por Rui Mota, mostram que de facto se andou muito acima do que seria normal e espectável. Mas não só, porque se atentar-mos na tabela dos registos, constactamos que mais anormal se torna, quando o pior dos registos marca o tempo de 10.82 segundos. De facto, esta prova teria mesmo de ficar registada na memória dos participantes, porque cada um de nós se entregou a pilotagens notáveis.
E a meio da prova, na quarta calha portanto, Frasco Leite aproveita a vantagem da calha onde se encontra e iguala Rui Mota no número de voltas, enquanto Frasco Leite desce à terceira posição a uma volta apenas de ambos. José Pedro Vieira e Filipe Carreiro começam a deixar-se ficar, ocupando agora as sexta e sétima posições da geral. Mas ficava uma vez mais o registo de um tremendo equilíbrio, que deixava a pairar uma incrível incerteza quanto ao desfecho desta prova e a prognósticos ninguém se atrevia.
A manga seguinte registava nova troca de posições entre Marco Silva e Frasco Leite com vantagem para o primeiro, num incrível equilíbrio entre estes dois pilotos e ainda Rui Mota, mas ficava também o registo de que este último piloto aguentava estoicamente a primeira posição, apesar de ser agora Marco Silva a igualar o seu número de voltas e enquanto comandante da prova. José Pedro Vieira e Filipe Carreiro mantinham as posições relativas e da geral, respectivamente sexto e sétimo classificados.
Mas na antepenúltima calha, assistiu-se ao despertar do guerreiro e Rui Mota parecia querer dizer que não lhe tirariam a possibilidade da realização de um pleno, com quatro vitórias em quatro provas. Embora Marco Silva conseguisse afirmar-se como segundo classificado, a verdade é que a distância entre o primeiro e ele, passava drásticamente para as duas voltas. Mas entre Marco Silva e Frasco Leite a diferença era de apenas uma volta, mas deixava agora este último piloto no quarto lugar da geral, ficando a terceira posição a pertencer a Miguel Guerreiro e o quinto lugar era de Ricardo Moura, ficando José Pedro Vieira e Filipe Carreiro nas posições que há já algumas calhas vinham a ocupar. Mas os registos dos tempos por volta continuavam a surpreender, bem como as próprias médias, o que indiciavam uma quase ausência de despistes.
A sétima e penúltima calha, vem uma vez comprovar que o frenético ritmo imposto por Rui Mota começava a distanciá-lo da concorrência. Mas se Marco Silva era quem o seguia nesta calha, à geral a segunda posição já pertencia agora a Miguel Guerreiro. Se por um lado começava a assumir contornos definitivos a posição de Rui Mota, por outro passava a ser absolutamente uma incógnita, com completaria esta jornada de loucos na segunda posição, na terceira, na quarta......
E iniciava-se então a calha que ditaria a verdade desportiva e o vencedor duma inesquecível jornada que acabaria por marcar a totalidade destes pilotos que tiveram oportunidade de brilhar, verdadeiramente.
E uma vez mais Rui Mota não perde a oportunidade de se impôr à demais concorrência, através de mais uma demonstração de clara superioridade. Também uma desastrosa participação de Frasco Leite, atirá-lo-ia para o quarto lugar da calha, mas a piorar à geral e a passar para o sexto lugar absoluto.A segunda posição na calha pertenceria a Marco Silva, um piloto que sabe sempre estar nos lugares de topo, assim as suas máquinas o ajudem, a cinco voltas do vencedor. Mas na geral e porque Miguel Guerreiro havia conseguido completar uma volta a mais, o segundo lugar acabaria por pertencer a este homem que iniciava a jornada carregado de fundadas expectativas. Infelizmente para si, existiu um Rui Mota pleno de inspiração que conseguiu um campeonato brilhante e que culminaria com este desfecho absolutamente soberbo. Ricardo Moura acabaria por perder o último lugar do pódio por menos de uma volta, seguido de José Pedro Vieira, também ele a menos de uma volta do quarto lugar. Na sexta posição, Frasco Leite, um piloto que merecia ter completado a prova numa posição mais honrosa, mas que pagou cara uma distracção escusada. A sétima posição caberia a Fernando Coelho, outro piloto que todos surpreendeu e que eventualmente poderia ter colhido mais frutos duma jornada onde pautou a sua participação por extraordinários registos. Filipe Carreiro viria a ocupar o oitavo lugar, numa prova em que estava-mos à espera que o seu andamento tivesse sido mais competitivo. Jorge Seia, António Lafuente e André Ferreira fechavam a tabela classificativa, nas nona, décima e décima primeira posições respectivamente.
Os observadores da FIA estiveram presentes.
E tivemos um Rui Mota que soube em cada jornada tirar o melhor partido em cada uma das situações, acabando também ele por marcar registos dignos de relevo. Parabéns a este piloto, mas sobretudo a toda a comunidade participante e até de todos quantos à distância, conseguiram seguir e assistir aos directos do GSC TV protagonizados pelo impagável Miguel Guerreiro.
Quanto à avaliação dos modelos, fica também a certeza de que de facto os Nissan são a melhor das apostas, por ser um modelo fácil de preparar e beneficiando ainda de se tratar de um modelo bastante mais leve. Mas contra todas as expectativas e prognósticos, acabaria por ser um Porsche 962 IMSA a dominar a totalidade do campeonato. Porventura, também aqui se aplicará a máxima de que "há razões que a própria razão desconhece"
E desta feita, o pódio seria preenchido por dois Nissan, mas com um Porsche no degrau mais apetecível.
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