Se me iniciei nos carrinhos de pista eléctricos ainda com a tenra idade de sete anos através dos modelos em plástico, muito cedo me senti atraído pelos modelos menos populares mas mais dinâmicos. Assim que me foi possível, adquiri os meus primeiros Cox usados, onde as performances proporcionadas pelas carroçarias plásticas associadas a chassis de ligas metálicas e dotados de elementos reguláveis e motores capazes de interessantes rotações, levar-me-íam a usufruir dessas performances para fazer as minhas delícias. Anos mais tarde, tive o atrevimento proporcionado pela insensatez dos meus catorze anos, de me confrontar com adversários de outra liga em competições já de alto gabarito e onde fazia das tripas coração para com o meu "cucaracha" da Cox, fazer frente sem qualquer êxito, aos pujantes "Mura" da totalidade dos meus adversários.
Por razões históricas os tempos mudariam mas o bichinho continuava a roer, alimentado por excepcionais recordações que me levariam a desbravar caminho assim que surgiu a primeira oportunidade. E o recomeço far-se-ia com um passo à retaguarda, com o regresso aos modelos de plástico com os populares Scalextric, tão na moda na década de 70 do passado século. Mas assim que surgiu a primeira oportunidade e à falta de poder chegar aos saudosos Mura que havia visto, acabaria por adquirir o meu primeiro Parma, algo muito simples, que desconhecia, mas que ía de encontro aos meus desejos de brincar com máquinas mais poderosas.
E a partir daqui o meu percurso foi-se misturando entre os plásticos e os chapas, durante alguns anos sob a supervisão de "Mestre Bernardino", o guru de uma série de putos que adoravam a brincadeira cá por Braga. E foi com ele que tive as minhas primeiras experiências fora da "terrinha", onde com ele acabaria por me aventurar em competições no "Estrele e Vigorosa" no Porto, uma verdadeira referência no norte do país e talvez mesmo a nível nacional. Participaria aí num interessante campeonato levado a cabo com os "Parma alargados", os convencionais chassis Parma a que se indexavam uns acrescentos em latão, tornando-os modelos à escala 1/24.
E nesse campeonato onde me estreava em competições naquele clube, acabaria a primeira prova num magnifico quarto lugar. Mas ao que parece terei dado nas vistas cedo demais e que poderia fazer indesejada frente a alguns dos militantes daquele clube. E para a segunda prova, havendo necessidade de aquisição de novo par de pneus, a organização na pessoa de "Zé Miguel" acabaria por me disponibilizar um jogo que em nada eram iguais aos primeiros e daí para a frente, nunca mais surgiriam resultados de relevo, vendo-me sempre relegado para posições da cauda da classificação.
Mas valeu a experiência, pois era daquela adrenalina que precisava. Acabaria por representar uma breve fase, mas que acabaria mais tarde, já na década de 90, por fazer o regresso aos Parma, onde aprimoraria a preparação do meu chapa. O meu chapa imbatível, o meu carocha campeão.
A sua preparação passou pelo empeno do chassis em locais determinados, de forma a baixar o centro de gravidade, mas tudo de acordo com a dimensão das rodas previamente estipuladas, tanto atrás como à frente. A imagem superior mostra a zona do chassis onde se encontra o eixo que por deformação do mesmo assumiria uma posição mais subida em relação ao plano horizontal da pista e em baixo vê-se o reforço posteriormente utilizado de forma a tornar rija a zona deformada e garantir que com alguma pancada mais violenta, não pudesse perder aquelas cotas. Os bronzes foram também colados ao chassis, prevenindo assim a anulação de vibrações destes, entre o eixo em rotação e o próprio chassis. Era também utilizada uma fita que se posiciona entre o chassis e o motor, aumentando o ajuste entre ambos e que ao mesmo tempo, funcionava como absorvente de vibrações.
A secção frontal sofreu igualmente uma deformação, de forma a proporcionar a subida da zona do patilhão. Consegui-se assim que todo o conjunto ficasse mais baixo, com o inevitável ganho de equilíbrio do conjunto.
A imagem inferior permite ver-se também o reforço dos suportes do eixo frontal, bem como a fita onde assenta o motor. Acabaria ainda por lastrar o conjunto com um acréscimo de 5 gramas em posição central avançada, o que beneficiaria a optimização do comportamento em curva, ao mesmo tempo que procedia ao aligeiramento do conjunto das rodas frontais. Este procedimento retiraria o excedente de peso nas extremidades, em largura, enquanto centrava o peso extra na parte mais central e avançada do chassis.
Na fotografia que abaixo se mostra, pode ver-se à direita uma roda completa de série, enquanto à esquerda se vê uma roda trabalhada, onde a existência de quatro furos e o recurso a pneus mais baixos, permitia uma redução do seu diâmetro e peso geral das mesmas e satisfazia a necessidade de baixar a frente do modelo.
O patilhão era complementado na zona do seu aperto com uma anilha de teflon, de forma a diminuir o atrito com o chassis, de modo a que este trabalhasse de forma absolutamente livre e garantindo assim que ficasse apto para o seu próprio e exclusivo desempenho sem interferência de atritos indesejados.
A ligação do motor às palhetas fez-se através da adopção de fios duplos, o que me terá safado de uma desistência quando completei a última prova com um dos fios partidos.
Depois foi tapar o bicho com uma carroçaria a gosto e claro, o carochinha da minha paixão veio mesmo a calhar.
Acabaria por completar o campeonato para o qual este modelo foi preparado, com um pleno de vitórias, algo inédito na minha carreira pois nunca o havia anteriormente conseguido.
Mas os Parma de primeira série usavam um motor 16D de muito fracas recordações, já que a sua fiabilidade era uma verdadeira sorte. A imagem inferior permite vêr-se um desses motores onde a cabeça do mesmo se encontrava do lado do aperto ao chassis e a sua caixa tem aberturas de formato rectangular, passando depois a fixação a ser feita através da caixa e as aberturas de refrigeração receberiam novo formato.
Mas os Parma continuariam a evoluir.
A aparência do chassis esconde uma evolução lógica que faltava. Mas não se terá ficado por aqui este fabricante, que apostaria na opção também de proporcionar eixos mais largos, através tanto de pneus de maior largura atrás e através da utilização de espaçadores no eixo da frente.
A imagem de cima mostra-nos o que poderia ter existido desde sempre. Percebe-se que o novo Parma permite a montagem do eixo frontal numa posição mais avançada, algo inexistente nos chassis da primeira série e que por isso, não admitiam carroçarias que representassem modelos com distância maior entre eixos. Também o patilhão passou a ser de novo desenho.
Mas também os motores passaram a ser de nova geração, numa clara aproximação de desenvolvimento aos motores Mura. Se na sua cabeça existe agora uma abertura que nos permitirá alguma acessibilidade ao colector sem necessidade de abertura dos mesmos, também os pólos eléctricos passaram a surgir do mesmo lado, ao invés do antigo conceito onde estes se encontravam em lados opostos, conforme se pode observar na imagem inferior.
Também este novo Parma, mais evoluído e mais largo, acabaria por vêr-se tapado por uma roupagem de carocha.
Mas a procura de maiores valôres levou a Parma a desenvolver um novo conceito adaptado à escala 1/24. Nascia o Parma Flexi 2.
Se já anteriormente havíamos assistido a alguma familiaridade do motor Parma com os Mura, agora estas parecenças passaram a ser gritantes. O chassis passou a ser composto por duas peças distintas que se fixam atrás apenas por encaixe e sem qualquer ponto de trancagem, acabando essa por ser feita na fixação frontal, proporcionada pela passagem do eixo que apanha as duas peças. Portanto, os dois conjuntos que apresentam alguma folga entre eles, permitem algum jogo de flexibilidade.
O resultado dinâmico deste novo desenvolvimento mostra-se verdadeiramente fantástico, proporcionado também por um motor que resulta em pleno para locomover um chassis de baixo peso.
Afinal o resultado de um desenvolvimento bem concebido, mas que mostrará tanto maior eficácia, quanto melhor forem as pistas, preterindo-se para estes modelos as pistas de fabrico industrial, por troca com as de conceito artesanal, como são os casos das pistas de madeira, dada a sua proximidade com as mais rápidas máquinas desta modalidade.
Mas aqui vos trouxe um pouco do meu percurso dentro desta variante e em que pude mostrar algo menos comum, mas que faz parte também dos slot cars.
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