sexta-feira, 8 de maio de 2020

A árdua tarefa de recuperação dos modelos Scalextric

 Para mal dos pecados dos coleccionadores de modelos antigos da Scalextric espanhola, é muito comum que alguns deles acabem por se encontrar no lastimável estado que aqui se vê neste Ligier, sendo mesmo o verdadeiro pesadelo de quem os colecciona, porque a solução para isto, não se mostra de fácil resolução e implica algum esforço, cuidado e dedicação, até ao seu mais próximo estado de aparência com os modelos novos.
 Resulta isto, dos mesmos serem fabricados em butirato, uma matéria similar ao plástico, mas que para além de poder resultar neste desagradável estado, pode ainda deformar-se e amarelecer com o passar dos anos por exposição à luz.
 Este aspecto farinhento que começa a cobrir as carroçarias e chassis, provém dos modelos terem sido expostos a locais pouco arejados e sujeitos a graus de humidade desaconselháveis.
 Vou tentar aqui explicar como se deverá proceder para a sua total limpeza, mas havendo sempre necessidade de perceber que alguma falta de cuidado poderá resultar em mazelas insolúveis. Portanto, todos os cuidados serão poucos.
Primeiro, deveremos tentar perceber o estado dos decalques que se encontram no modelo. Havendo zonas em que estes possam estar quebrados, a tarefa da sua remoção implica cuidados redobrados. Modelos existem em que podem estar decorados tanto com decalcomanias, mas também com autocolantes. É o caso deste Ligier, onde a publicidade lateral é feita com o recurso a autocolantes e a restante, por decalcomanias. No caso dos autocolantes, se estes se encontrarem perfeitamente colados, o melhor será mantê-los tal como se encontram. se nos arriscarmos a levantá-los, então dá-los-emos forçosamente como perdidos, pois a cola original desaparecerá. Restará conseguir no mercado alguma folha original, o que nalguns casos será mesmo missão impossível.
 O trabalho inicia-se então pela desmontagem completa do modelo. Depois, deveremos dedicar o trabalho a um elemento de cada vez, e começar a tarefa verdadeiramente árdua. Começando por exemplo pela carroçaria, deveremos mergulhá-la numa tina com água bastante quente. Suficientemente quente para conseguirmos mergulhar nela as nossas mãos, mas de maneira a que as consigamos manter apenas por períodos de tempo bastante curtos. Ter atenção para o facto destes também não se encontrarem mergulhados por demasiado tempo, pois poderia resultar na sua irremediável deformação. Estes mergulhos vão alterando as características deste pó que cobre a carroçaria. Não se pense que assim, será fácil de ser retirada, mas ajuda. Os decalque vão também amolecendo à medida que vamos fazendo breves mergulhos deste elemento e com a ajuda de um pincel macio, vamos forçando pelas extremidades dos autocolantes, a sua descolagem.
 Retirar a totalidade dos autocolantes é o primeiro e delicado passo. Mas de cada vez que sejam retirados, deveremos ter o cuidado de os pousar nalguma superfície mais ou menos rugosa, nada de papel, de maneira a que não consigam aderir com facilidade a essa nova superfície, ali se mantendo até se encontrarem totalmente sêcas. Depois de totalmente desprovida de decalques, com recurso a sabão/sabonete convencional e a um pincel cujos pêlos apresentem alguma consistência, de preferência pêlo curto e que apresente alguma rigidez, mas nada de excesso para não provocar riscos (para esta tarefa os pincéis da minha preferência são os das máquinas de barbear), deveremos começar a fazer várias lavagens com recurso a vigorosos movimentos do pincel sobre todas as partes, mas sobretudo as mais difíceis. Deveremos repetir variadas vezes estes movimentos, intercalados com a passagem em água limpa para podermos aquilatar do estado de limpeza que a carroçaria vai assumindo. Para melhor percebermos do seu estado de limpeza, deveremos volta e meia recorrer à sua secagem. Isto porque, encontrando-se o modelo sêco, tornam-se mais visíveis os pontos de fixação desta terrível matéria. A coisa começa a parecer nalguns pontos impossível de se limpar, mas aqui recorremos a outro truque.
 Os palitos de madeira são agora de extrema importância, preferencialmente os afiados com pontas extremamente aguçadas. Poderemos com eles passar sem qualquer receio nas esquinas e vincos mais complicados, mesmo recorrendo a alguma pressão, já que a sua consistência não é suficientemente forte para danificar o butirato. E assim, paulatinamente, com muita paciência é certo e tempo disponível, conseguiremos levar a água ao nosso moinho. Depois de todas as partes limpas a 100%, é hora de começarmos a pensar em retribui-lhe o aspecto original.
 Os decalques retirados passam agora pela fase de lavagem também, para que lhes possamos retirar qualquer indesejado resíduo. Aqui teremos que usar da nossa maior atenção, sob pena de deitarmos tudo a perder. Também com o recurso a um pincel de pêlo macio, água e sabão, deverão ser lavados de ambos os lados. Finalmente deverão ser passados por água absolutamente limpa, garantindo-se a sua melhor isenção de prejudiciais impurezas.
 Depois deveremos fazer a recolocação nos locais originais. Recomenda-se que para que isso aconteça da forma mais correcta possível, que tenhamos feito previamente imagens do modelo.
 E pronto, completadas essas tarefas, é o momento da realização do milagre, com a montagem da totalidade dos elementos que compõem o modelo. Lembrar que deveremos aproveitar também para a lubrificação dos elementos móveis, não vá um dia lembrar-mo-nos de querer com eles dar uma voltita.
 E aqui temos um belo exemplar no seu mais puro estado de originalidade. Agora deveremos salvaguardar a preservação deste estado de limpeza, resguardando-o de zonas húmidas e não descurar umas olhadelas de quando em vez, a avaliar se o mal retorna ou não. Em caso de nos aperceber-mos de que esse processo de "ferrugem" queira retomar conta do modelo, então, com recurso a um pano macio e bem limpo, deveremos humedecê-lo com um pouco de "WD40" e esfregar suavemente por todo o modelo. Depois, tornar a passar um pano completamente sêco e o aspecto de "modelo novo" assumirá novamente a bela imagem do exemplar.
Nota: Esta tarefa é pouco recomendável a pessoas nervosas e pouco pacientes para estas delicadas tarefas. Para os outros, bons trabalhos de restauro.

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